Autor Desconhecido
Tradução do Ir\ Kurt Max Hauser
Or\ de Porto Alegre - RS
Publicado no Livro “Coletânea de Trabalhos A Trolha”
Editora A Trolha - 1993
Conta-se que perguntaram a
Pitágoras, após ter sido Iniciado nos mistérios, o que tinha visto no Templo,
tendo ele respondido simplesmente: NADA.
Porém, Pitágoras era Pitágoras,
Se ao sair do Templo egípcio não tinha visto “nada”, não se limitou a sair
decepcionado, senão buscando a origem deste “nada”, descobriu que era em si
mesmo que não tinha visto “nada mais” que desejos e ilusões. Foi então que
começou seu caminho para a sabedoria.
Muitos Irmãos recém-iniciados se
afastam da Ordem porque em nossas Lojas não encontram “nada”, porque o nosso
simbolismo não lhes significa “nada”, porque na Maçonaria não se faz “nada”,
outros se queixam que nas Lojas se fala muito de simbolismo e “nada”; que a
Maçonaria é uma instituição para se fazer amigos e “nada mais”; que só
comparecem aos trabalhos da Loja para perder tempo e “nada mais”. Propomos
perguntar-nos: o que significa esse “nada” com respeito à Maçonaria?
“Fulano” não vai mais à sua
Loja porque “não encontrou nada...”. E
como é que não encontrou “nada”? Não encontrou o Templo com seu Altar, as
Colunas, os móveis e a decoração? Não encontrou os Irmãos reunidos na Loja? E
como é que diz que não encontrou “nada” e que o Simbolismo não lhe significa
“nada”? Encontrou então pelo menos o Simbolismo... E como é que pode dizer na
Maçonaria não se faz “nada” e que na Loja se fala muito e “nada” mais? Então,
se faz algo, ainda que seja nada mais que falar...
Parece que o “nada” que se
encontra na Maçonaria não deve ser tomado ao pé da letra. O Neófito que
entra no Templo encontra algo, porem não encontra o que busca; isto dá margem a
várias perguntas:
1º O “que busca” o profano que
solicita ser Iniciado?
2º O que a Maçonaria “não pode
oferecer”?
3º O que a Maçonaria “pode
oferecer”?
4º “O que encontra” o Neófito ao
dizer que “não tem nada”?
Procuramos responder estas
perguntas de um ponto de vista estritamente pessoal.
1º O “que busca” o profano que
solicita ser iniciado?
Pode solicitar seu ingresso pôr
vários motivos, desde o mais grosseiros materialismo, o desejo de encontrar
protetores para seus negócios de qualquer espécie, até o motivo de mais elevado
sentimento de humanitarismo. Em regra geral, é mistura de tudo, acrescido de
curiosidade; e freqüentemente haverá um sentimento da própria imperfeição acrescido
do desejo de melhorar-se e de aperfeiçoar-se. Não é raro também que se espere
encontrar na Maçonaria um estímulo à ação para compensar a própria falta de
atividade; idéias extraordinárias e originais que ponham em funcionamento o
pensamento e a imaginação própria.
É um dos problemas da Maçonaria
que, pelo segredo e discrição que devem guardar seus integrantes, o profano
chega geralmente a nossas portas, desconhecendo realmente o que o espera, vindo
em contrapartida cheio de esperanças e ilusões que vão do inadequado até o
absurdo.
2º O que a Maçonaria “não poder
oferecer”?
A Maçonaria não é feita à medida
das ilusões do neófito.
Se este esperou uma renovação
completa de sua personalidade pôr meio de um remédio amostra grátis e que se
oferece a todo aquele que entra na Ordem, equivocou-se, Damos-lhes a Luz, as
ferramentas para trabalhar, mostrando-lhes a Pedra Bruta e o modo de trabalhar
nela. O resto é assunto do Neófito. Tem que trabalhar para receber o “seu
salário” e este lhe é dado segundo a quantidade e a qualidade do seu trabalho. Não poderá exigir que se lhe
dê tudo de uma vez sem fazer o menor esforço. Então acontece que o Neófito não
acha o que buscava.
Ele buscava um meio cômodo para
tornar sua vida mais fácil e agradável, para sentir-se importante sem esforço
algum, para viver em paz consigo mesmo. E como não acha o que buscava, diz
simplesmente: “Não encontrei nada”. Com isto, expressa que tudo o mais que
encontra não tem importância para ele; e que, aquilo que “não” encontra é o que
ele queria e nada mais. Dizer que a Maçonaria não faz nada é outra maneira de
revelar que se quer conseguir satisfações de amor próprio a baixo custo. Se na
Maçonaria estivesse se cristalizando uma obra de autentico humanismo,
poderíamos participar da glória de sua realização sem que tivéssemos o trabalho
de planejar e organizar sua execução. Se a Maçonaria fosse aquilo que querem
aqueles que se queixam de não encontrar nada nela, ela seria idêntica às
sociedades múltiplas de beneficência e clubes de serviço. cujos principais
objetivos parecem ser que seus membros apareçam na imprensa escrita e falada a
qualquer pretexto. Todas estas satisfações de amor próprio, todas estas ilusões
e esperanças vazias, é que a Maçonaria
não oferece. Pôr isto é que, aqueles que buscam isto, não encontram
“nada”.
3º O que a Maçonaria “pode
oferecer”?
Do ponto de vista das pessoas
mencionadas anteriormente, “nada”, pois para elas o trabalho, o estudo, não são
nada, e se não tiverem a paciência necessária, se afastarão.
Quanto mais irreais, fantásticas
forem suas esperanças, mais necessitarão para encontrar o que oferece a
Maçonaria, e que é: trabalho, ferramentas para executá-lo, o “salário” que
somente se obtém trabalhando. O Neófito tem que aprender que na Maçonaria não
encontrará satisfação alguma senão em razão do seu próprio trabalho.
Através do seu aprendizado se
dará conta de que se a maçonaria lhe der, sem sacrifício, as satisfações que
estava procurando, então sim, poderá dizer “que não é nada”. O que acontece é
que o homem moderno tem do trabalho um
conceito muito diferente que tinha as corporações de construtores da
antiguidade. Para a maioria, hoje, o trabalho é escravidão, atividade mecânica,
impessoal, algo que se faz porque tem que se viver e comer, e sem trabalho, não
há comida; algo que se faz sem grande satisfação, esperando que o relógio
marque a hora da saída. Dali então partimos para o descanso, a diversão, as
comodidades. São poucos aos quais a sorte reservou um trabalho construtivo e
menos ainda existem pessoas capazes de buscar e achar o descanso em uma
atividade de tipo superior, uma atividade criadora. O construtor medieval não
se preocupava em apressar o tempo para terminar a catedral, mas sim se detinha
nos detalhes da construção, acrescentando uma grande variedades de enfeites e
esculturas tão belas como indispensáveis
para a arquitetura, simplesmente porque sentia o gosto de criar algo belo e
bonito.
Nós já não compreendemos mais
facilmente este prazer pelo trabalho, Queremos que o trabalho termine o mais
depressa possível, para que possamos nos dedicar a outras atividades nas quais
encontramos mais prazer.
Necessitamos voltar a descobrir
a vocação artística do homem - a única que lhe dá plena satisfação - é de não
servir unicamente de apêndice pensante da maquina, e sim de procurar realizar
um trabalho criador.
4º “O que encontra” o Neófito ao dizer que “não tem nada”?
Bate à porta do Templo, se abre
a mesma para ele e não encontra nada. O que é este “nada”?
Já dissemos, tomar a palavra em
sentido estrito é um absurdo. Algo ele encontra e se nós o pressionarmos um
pouco, ele nos dirá “Não há nada, somente palavras, somente Ritualística,
somente Símbolos, somente idéias antiquadas”. Algo portanto encontra, porem não
“o que buscava”. E como o que ele encontra não é nada em comparação com o que
buscava, diz simplesmente que não há nada.
Porém, este “nada” não é somente
um fenômeno negativo. Este “nada” e como um gérmen, algo novo e grande.
O Irmão que se afasta da Loja
queixando-se de “não haver encontrado nada”, não se limita somente a isto.
Afasta-se desgostoso, decepcionado. O encontro com o “nada” o afetou no mais
profundo do seu ser. Não achou o que buscava, porém achou precisamente seu
próprio desgosto, sua própria decepção.
Ainda que se vá de nosso
convívio, sua decepção o segue. E ainda que não o confesse, não deixará de
pensar, de vez em quando, que, para encontrar algo, se necessitam duas coisas:
algo que existe e alguém que saiba procurar. Ao lado do seu orgulho, porque
ele” não se deixou enganar”, estará a constante inquietude acerca do que terão
encontrado os que ficaram e que ele não soube encontrar. Se vê, assim, posto
frente a frente, com sua própria insuficiência. Com seu próprio NADA.
Se for sincero consigo mesmo,
reconhecerá que onde não encontrou nada, foi em si mesmo.
Este é o ponto onde começa a
germinar a idéia Maçônica. Se o Irmão chegar a este ponto, começará a ser
MAÇOM.
Autor desconhecido
Tradução do Ir\ Kurt Max Hauser
Or\ de Porto Alegre - RS
Publicado no Livro “Coletânea de
Trabalhos A Trolha”
Editora
A Trolha - 1993
Colaboração:
Ir\ Edson Fernando da Silva
Sobrinho -